Armado em cavaleiro eu era um ser vivente
quando Cristo nasceu; e há bem uns dois mil anos
meu destino é arrastar incríveis desenganos
como um galé arrasta, em transe, uma corrente.
Esforços eu despenco, ingentes, sobre-humanos,
no intuito de ficar a tudo indiferente,
mas, em vão; pois ao peso enorme do tridente
da turba sempre má, eu sinto os meus enganos.
Sem turbante e alborrós, nos desertos da vida,
como a folha a cair, dispersa do seu ramo,
minh'alma segue ao léo, arrojada e tangida.
Peregrino infeliz como judeu na lenda
só ouço responder-me o eco, se alguém chamo,
só diviso o deserto, e nunca avisto a tenda...
E. da Silveira Marques ( in memoriam )
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