terça-feira, 24 de novembro de 2009

As abelhas em extinção

Portugal é dos países menos atingidos, mas de 2004 a 2007 morreram 3,5 bilhões de abelhas no país. A varroose é a culpada. Os espanhóis já arranjaram solução: fabricar ’superabelhas’

As abelhas estão desaparecendo. Nos últimos anos, por todo o mundo, milhões de colmeias têm sido dizimadas. O cenário é apocalíptico para os insetos, mas também para a humanidade.

Como disse Albert Einstein: “Quando as abelhas desaparecerem da face da Terra, o homem tem apenas quatro anos de vida.” Mas porque estão as abelhas desaparecendo? “A causa é ainda desconhecida, o que os investigadores sabem é que há vários fatores que podem ter causado esta situação”, explica o professor universitário e especialista nesta matéria Miguel Vilas Boas.

Apesar de as abelhas terem um inimigo sem rosto, há uma doença que os especialistas acreditam ser responsável por várias mortes: a varroose. Considerada a “sida das abelhas”, este vírus é provocado por um ácaro – a varroa – que “enfraquece as abelhas e torna-as susceptíveis a outras doenças”.

Só no ano passado na Espanha desapareceram nove bilhões de abelhas. Para combater este vôo para a extinção, uma equipe de universitários de Córdoba decidiu criar aquilo a que chamaram “superabelhas” (ver infografia). Neste processo as rainhas são inseminadas e as abelhas nascem fortificadas, resistentes a ácaros.

Em Portugal a população de abelhas também tem diminuído, mas Vilas Boas acredita que “não houve nenhum surto mortífero como nos outros países”. Tal fato é confirmado por João Casaca, da Federação Nacional de Apicultores (FNAP). “Em todo o país, foi-nos comunicados apenas uma situação de um apicultor que viu as suas colmeias completamente dizimadas.”

Mas a varroose também preocupa os apicultores nacionais. Tendo em conta o boletim do Ministério da Agricultura, só entre 2004 e 2007 houve uma quebra de 3,5 bilhões de abelhas. O número impressiona, mas é amenizado por especialistas que garantem que o número de apicultores também reduziu significativamente. Ora, “menos apicultores, menos abelhas”.

Ainda assim, a varroose está presente em Portugal. E os apicultores têm noção do perigo, pois é a doença que destrói mais colmeias no País. Aliás, consciente desta situação, o Ministério da Agricultura chegou a distribuir gratuitamente produtos para travar o flagelo. Agora, já não são doados, mas continuam a ser comparticipados. É talvez por isso, que o combate à varroose em Portugal se centre num único método. “O uso de acaricidas”, esclarece João Casaca, que garante que por lá não se criam “superabelhas” como em Espanha. Tal também não está previsto num futuro próximo. Isto porque, como explica Vilas Boas, “ninguém utiliza a inseminação, o único programa que existe é de seleção das rainhas. Nada mais.”

Em Portugal, os números também não são tão catastróficos. “É um processo que tem custos, mas está controlado”, explica Vilas Boas. Além disso, o País tem a “bênção” de ter uma das poucas regiões do mundo onde a varroose não existe, como é o caso de algumas ilhas dos Açores.

Apocalipse a preto e amarelo:

O perigo de extinção das abelhas é real. Nos EUA, a segunda potência da apicultura depois da China, mais de 60% das populações de abelhas desapareceram em 24 estados. A crise é tal que o Congresso teve de aprovar um plano de emergência, como faz em tempo de guerra ou de crise económica. Aliás, sob o pretexto económico, a secretária da Agricultura norte-americana lembrou que “sem abelhas não existe Coca-Cola”. Como quem diz: senhores do capital mexam-se, que a coisa é séria.

Os números na Europa não são mais animadores. Segundo o diário espanhol El Mundo, na Itália, Bélgica e Alemanha metade das abelhas desapareceram. A varroose não será o único problema e Vilas Boas acredita mesmo que “quando descobrirem a causa real, ela vai variar de país para país”. João Casaca lembra algumas das potenciais causas em diferentes países: “Na Alemanha tem a ver com o cultivo de sementes, na França pensa-se que seja a utilização de pesticidas nas culturas e na Espanha será a sobreprodução.”

Certo é que estes polinizadores continuam a desaparecer. E como seria o mundo sem abelhas?. “Seria uma catástrofe”, alerta Miguel Vilas Boas. “Todo o ecossistema seria alterado e Einstein, provavelmente, teria razão. Seria uma crise muito pior que a econômica porque nós [humanidade] ficaríamos sem comida.”

É por este cenário que muitos especialistas chegam a evocar o hino do Reino Unido. God, Save the Queen. Em português: Deus, Salve a Rainha. A rainha das abelhas, entenda-se.

( por Rui Pedro Antunes )

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